Estação ferroviária de Carpina: patrimônio de todos os pernambucanos
Estação ferroviária de Carpina:
patrimônio de todos os pernambucanos
por Jefferson Linconn - Jornalista 3374 MTb
A Estação Ferroviária
de Carpina já foi uma das principais ferrovias de Pernambuco.
A estação
de Carpina, município localizado na Zona da Mata Norte de Pernambuco, conhecido
inicialmente como Floresta dos Leões, foi criada em 1881 e teve seu
funcionamento efetivo até o ano de 1980. Sua linha férrea tinha início na
estação de Brum, no Recife, através da partida diária de trens de passageiros
que cobriam o percurso do Recife até Carpina, bifurcando-se então na referida
localidade, através de dois ramais: um ramal até Limoeiro e outro até a Paraíba.
Pernambuco
possui o segundo maior acervo ferroviário do país. Entre as instituições
responsáveis por manter e preservar o conjunto dessa memória e desses monumentos,
encontra-se o IPHAN que, através do Decreto 11.843 de 2007, de extinção da Rede
Ferroviária Federal, RFFSA, tornou-se o órgão responsável pela salvaguarda do
referido bem.
“A
importância do surgimento da Estação de Carpina é que a partir de uma linha,
foi criado um distrito, uma cidade”, afirma Cremilda Matias de Albuquerque,
Coordenadora técnica no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional,
IPHAN.
“A missão
do IPHAN é a preservação do patrimônio cultural brasileiro e o patrimônio
ferroviário passou a ser atribuição do IPHAN em função da extinção da rede e da
publicação deste decreto”, afirma Maria Emília Lopes Freire, arquiteta,
Coordenadora Técnica e substituta do Superintendente do Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Sr. Frederico Faria Neves de Almeida.
“Pensamos
a preservação do patrimônio ferroviário, através de um conceito de “complexo
ferroviário” que inclui a linha, a estação, a caixa d’água, o girador. Em torno
dos bens móveis e também das relações sociais que aconteceram ali, ou seja, na
busca por melhor apreender como se davam essas várias relações. Também, alguns
encaminhamentos a gente tem feito, por exemplo: como as prefeituras podem
inserir essas áreas dentro do seu próprio Plano Diretor? Como proteger essas
áreas de construções ilegais e inadequadas? O IPHAN não possui o braço
financeiro, mas ele busca articular um conjunto de ações com o Ministério da
Cultura, o Ministério da Educação, o Ministério das Cidades onde, na medida do
possível, possam ser diminuídos ou mitigados os danos provocados pela falta de
manutenção e de preservação cotidiana desses patrimônios. Dessa forma, é nossa
intenção que as prefeituras envolvidas com a herança dessas malhas e desses
equipamentos ferroviários, sejam parceiras nesta gestão. Isto é o que o IPHAN
propõe”, afirma Maria Emília.
“Em 2007,
o IPHAN começou a fazer o inventário desse patrimônio ferroviário pra conhecer
o que era este acervo, para então, a partir dessas informações, propor a sua
preservação. Quando em 2008 o IPHAN terminou o inventário, ele o encaminhou
para as 64 prefeituras que possuem patrimônio ferroviário, dizendo o que era e
o que cabia a cada uma dessas localidades, convidando-as para firmarem uma
parceria. Algumas responderam e outras, não. Depois disto, nós fizemos 2
oficinas específicas para as prefeituras. Nós tivemos aqui em Pernambuco, o
inventário de todo o acervo dos bens móveis e dos bens integrados e avançamos.
Somos precursores da questão da memória, através de um projeto que se chama “Um
trem de Histórias”, através de uma série de entrevistas feitas com os
ferroviários e todo o segmento de formação da rede, desde o superintendente até
o maquinista, com o objetivo de produzirmos uma publicação que, em breve, possa
subsidiar também o trabalho de proteção”, lembra Maria Emília.
Essa
linha foi a segunda a ser construída em Pernambuco e tinha o objetivo de
conhecer o Oeste, a Região Oeste do estado. A primeira ligava o Recife ao São
Francisco e foi construída em 1850, mas, infelizmente, ela só pode ir até o
Cabo devido às dificuldades de mão de obra, uma vez que o tráfico estava sendo
abolido e ficava proibida a utilização de trabalho escravo, inclusive ficou
estabelecido que um dos pré-requisitos para que esses ingleses aqui se
instalassem, era que não se usasse mais a ocupação escrava. Em seguida, veio a
Great Western que ficou como a concessionária das estradas de ferro em muitas
partes no Nordeste.
“A maior
carga da Linha Oeste era composta por algodão. Com a extinção da rede, com o
processo de privatização, a linha Tronco-Sul que vai para Alagoas foi
interrompida em 2000. A Linha Tronco-Centro, que é a que vai para Caruaru,
também está desativada. Assim, a linha Oeste é a única que está “viva” no
estado. É uma das linhas que ainda continua, ela nunca foi interrompida”,
explica Maria Emília.
“Para o
IPHAN e para todos nós, enquanto cidadãos, torna-se, portanto, fundamental a
preservação do patrimônio ferroviário pela relevância que o mesmo possui para a
História do próprio desenvolvimento do país, desde a fase da sua implantação e
estruturação no território brasileiro até os dias de hoje. A ferrovia teve uma
importância para a integração nacional, através do desbravamento e da
interiorização. E, quando ela foi pra Carpina, foi com um objetivo: interiorizar
o estado de Pernambuco”, diz Maria Emília.
“A rede,
ela desbravou o Brasil, partindo do litoral e interiorizando o nosso
desenvolvimento”, conclui Cremilda Albuquerque.
A
origem da Estação de Carpina remete ao antigo traçado que
avançou até Pilar, indo até Nova Cruz, já no Rio Grande do Norte e da E. F.
Natal à Nova Cruz. Para ligar estas duas últimas, a GW construiu em 1904 um
trecho de 45 km, formando então o que veio a ser chamado de Linha Norte. Esta linha está ativa até hoje sob o
controle da CFN, que obteve a concessão da malha Nordeste em 1996. A estação ainda está de pé, bem conservada
externamente, embora esteja hoje ocupada
por um antigo ferroviário da RFFSA, que ocupou 2/3 da estação e no outro 1/3
montou uma Lan House.
…
… …
À frente da estação existe outra plataforma
intermediária de embarque, onde apenas o esqueleto da antiga coberta ainda
permanece de pé. Carpina possuía um girador e o mesmo estava acessível a bem
poucos anos, mas foi enterrado, segundo um morador, "com tudo
dentro". Ficava logo após a estação, que ainda preserva a sua caixa
d'água para locomotivas, num terreno agora totalmente cercado, seu pequeno
ramal também foi totalmente retirado, mas a saída do desvio ainda permanece.
(Sydney Correa, 02/2009).
(Fontes: Guia Geral das Estradas de Ferro do Brasil, 1960; Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, IBGE, volume IV, 1958; Guias Levi, 1932-1982; As ferrovias do Brasil, 2005, Carlos Cornejo e João E. Gerodetti; Sydney Correa, 2009; Mapas - acervo R. M. Giesbrecht; Diário de Pernambuco, edições entre 1980 e 1982). |
Anexos:
Poesias de Maria Luiza
Vasconcelos
Estação Carpina
(Luiza Maria de Vasconcelos)
Quem conhece a nossa História
sabe que a estação
no passado foi a glória
dessa nossa região
É patrimônio, é memória
é área de preservação
é monumento de glória
de Carpina, o coração
É que a urbanização
começou com a ferrovia
segunda conexão
mais importante que havia
Porém veio o abandono
e essa página apagou
Para os anais foi um dano
que a História registrou
O trem da Saudade
(Luiza Maria de Vasconcelos)
A romântica Maria Fumaça
dos meus tempos de menina
é saudade que me abraça
e que muito me fascina
Todas as manhãs chegava
a esta terra hospitaleira
Eu, então, embarcava
pra “Veneza brasileira”
Na amplidão dos campos
o verde se destacava
e minha viagem de sonhos
ali se realizava
Lembro ainda o cambiteiro
fumaçando entre canaviais
levando cana pra esteira
evolando no ar tristes ais
Eita tempo de fartura
ninguém nunca reclamava
A vida era inocente e pura
em violência não se falava
De repente, tudo acabou
só nos resta lamentar
O tempo bom que passou
que jamais irá voltar
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