Lançamento do “Livro Manifesto” pelo poeta Jefferson Linconn
Jefferson
Linconn, à direita, falando sobre o lançamento do seu “Livro Manifesto”, no
stand da UBE, na Bienal do Livro de PE 2013.
Acabei de escrever um livro. Ou
melhor, acabei de publicá-lo. O Seu lançamento ocorreu no stand da União
Brasileira dos Escritores (UBE), durante a Bienal do Livro de Pernambuco,
realizada no Centro de Convenções, em Olinda, na terça-feira, dia 08/10, última.
Trata-se de um livro de poesia,
ou melhor, de um único poema que perpassa toda a narrativa num diálogo entre a
condição de militância e boa-fé de um jovem, o olhar realista e inquiridor de
um homem de meia idade e o olhar cético e às vezes bastante cínico de um velho
que um dia viu perder-se o sentido das suas causas políticas no uso que fizeram
delas demagogos, oportunistas, pseudoesquerdistas e crápulas. Ou seja, mais do
que sobre um idílio romântico, o esforço do que escrevi, pretende ser lido como
sobre a nossa capacidade de refletir e se indignar ainda com o que estamos
vendo no dia a dia do país e, particularmente em Pernambuco.
O “Livro Manifesto”, como o
denominei, escoa por 128 páginas uma espécie de visão de mundo que tenta não se
restringir a ver as coisas pelo lado do lirismo e da beleza inerentes à vida,
mas que faz uso da palavra e dos seus níveis de interpretação para buscar na
nossa realidade urbana o que denomino de sentido dos jogos de palavras e de
significados que unem a vida, a política, o amor, a crença e as descrenças, e o
próprio conjunto das relações humanas.
A narrativa se compõe do diálogo
constante que entre si fazem três e ao mesmo tempo um único personagem, um velho,
um menino e um burro, que formam e que são ou pode ter sido ou poderá ser este
atual sujeito que vos fala, ou o meu próprio leitor. Burro, no sentido de hoje
só acreditar que todos os esforços que fazemos para compreender e atuar no
mundo podem ser resumidos na genial frase de Lulu Santos: “Assim caminha a
humanidade... Com passo de formiga e sem vontade”.
Na
verdade no corpo do texto procuro não falar apenas enquanto um jovem que fez
militância partidária e estudantil, quando cursava jornalismo pela UFPE no
início dos anos 90. Sobre um rapaz, franzino e militante comunista que foi além
de Diretor de Imprensa por duas gestões no Diretório Central dos Estudantes da
UFPE (que, na época, situava-se logo ali no centro do Recife, na Rua do
Hospício. Ora, vejam vocês, pra início de tudo, como era o nome da rua...). Ou que
foi também Diretor de Agitação e Propaganda do PC do B e que participou ativamente
do Fora Collor. Onde, também por causa dessa ação militante, conheceu quase
todo o país e suas principais cidades e seus inúmeros problemas, através principalmente
dos Movimentos Estudantil e Sindical, ou seja, que em várias ocasiões e em
diversas vezes, viu de perto o que se discutia no meio acadêmico e fora dele
sobre as possibilidades de um outro Brasil: justo, consciente e solidário.
A
dinâmica e o curso da história, não apenas vivenciada por mim, mas acredito por
grande parte da minha geração, que saíamos do modelo implantado pelo regime
autoritário que imperou no Brasil pós 64, aonde vimos a abertura política, a
democratização do país, a eleição e a saída de Fernando Collor, o governo FHC e
depois o governo Lula, porém, colocou-nos diante do problema nada fácil de
resolver de não apenas ver ou tentar mudar a estrutura econômica e social do
Brasil, pois a cultura política, ela mesma, inclusive nos dias atuais ainda encontra-se
terrivelmente impregnada de práticas as
mais individualistas, autoritárias, corporativistas, demagógicas e oportunistas
possíveis.
O homem maduro que toma voz,
durante a fala entre o jovem que fui e o velho que o contesta metaforicamente,
não apenas no livro, mas na própria vida cotidiana, habitam-me nesta
encruzilhada da minha própria meia-idade.
Questiono-os, portanto, intrinsicamente na condição de prever nas
palavras dessas duas criaturas e doutras - nos ambientes e nas culturas que nos
cercam - os seus próprios gestos e as suas mais arquetípicas significações.
Hoje, nem o meio acadêmico, nem o
meio político, nem as representações instituídas formalmente dos movimentos
sociais, nem sequer a instância jurídica que deveria estar a favor da justiça e
não a favor dos interesses mais vis e escabrosos de políticos e de grupos econômicos
no país, podem dizer-se verdadeiramente antenados com o conjunto de interesses e
exigências mais amplas do povo brasileiro. Reivindicações estas por um Brasil
mais decente e digno, formado por indivíduos que cotidianamente vêm dando aulas
de superação dos limites de sua própria paciência com os burocratas e com os velhos
e novos aventureiros e bandidos que se locupletam dos recursos recolhidos da
mesma população e que se assenhoraram cada dia mais da própria máquina do
Estado.
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